quarta-feira, 7 de novembro de 2012

ARTIGO SOBRE DROGAS


A ESCOLA COMO AGENTE DE PREVENÇÃO AO USO DE DROGAS


Ruy Palhano Silva
Psiquiatra-Psicoterapeuta. Presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes, Conen/MA.


Nos últimos anos, o conceito de prevenção aplicado em medicina e em diversos outros ramos de atividade humana tem sido largamente utilizado, e os que o fazem têm chamado nossa atenção para o fato de que em muitas ocasiões é bem melhor evitarmos certos acontecimentos que deixarmos que os mesmos ocorram para em seguida tratá-los. Isso acontece praticamente em todos os ramos e especialidades médicas e freqüentemente na maioria dos problemas humanos.

Na área relacionada ao consumo de álcool, tabaco e outras drogas, o conceito de prevenção tem sido alvo de modificações. Na atualidade, prefere-se falar em Educação Preventiva ao invés de prevenção tão somente. E isto se deve às mudanças históricas observadas no papel da escola com relação à vida das pessoas. A escola sai de uma posição de fornecedora de conhecimentos para se transformar em uma agência importante na formação da personalidade e do caráter dos indivíduos e da sociedade. Sai de um papel descritivo, para questionador e debatedor dos grandes temas sociais. Sai de um papel passivo e repassador de opiniões, para desempenhar um papel ativo e dinâmico na esfera dos acontecimentos sociais.

Por conta destas mudanças, conceituais e estruturais, a escola como agente formador passou a desempenhar um papel relevante e diferenciado na área de prevenção ao abuso de álcool, tabaco e outras drogas. Nas primeiras formulações a idéia de prevenção estava centrada ao princípio de que se informando sobre o assunto estaríamos promovendo a prevenção ao uso destas substâncias, ao mesmo tempo colocava-se a droga como epifenômeno nas situações de uso.

Estas orientações históricas pouco adiantaram no sentido de interferirem enfaticamente no processo individual e social de uso/abuso de drogas. Isto é, estas idéias
não mudaram as motivações e o comportamento das pessoas quanto à atração ao consumo das mesmas.

Porém, quando se fala atualmente em Educação Preventiva, relacionada ao consumo de drogas, estamos nos referindo à possibilidade de adotarmos medidas que visem a formação da consciência dos indivíduos em seus contextos históricos e em suas relações sociais, estamos nos referindo à formação da personalidade, do caráter e da construção de diversos valores indispensáveis ao convívio pessoal e social. Não se pode mais falar de prevenção ao abuso de drogas com uma intervenção que adote medidas verticalizadas, e sim na adoção de medidas que contemplem o desenvolvimento e a formação dos indivíduos em suas relações sociais, medidas estas que sejam capazes de interferirem radicalmente nas modificações de busca destas substâncias. Daí porque ao falar-se em educação preventiva, tem que se falar em valorização da vida, em saúde, em direitos individuais e coletivos, em ecologia e em relações sociais etc. Hoje se sabe que prevenção é algo mais complexo, mais avaliável e mais exeqüível, daí porque a escola se configura como um dos instrumentos e ferramentas mais importantes ao nosso dispor para se implementar propostas preventivas.
Como nos informa o Aurélio, prevenir é dispor com antecipação, é preparar-se, é chegar antes que algo aconteça, é adiantar-se ou antecipar-se a algo. É impedir que se realize ou que algo aconteça, é ir ao encontro de, etc.

Dentro dessa concepção, a informação ou estratégia inspiradas no modelo de informativos entram neste novo contexto como algo importante, porém sabe-se que isto não basta por si só. Sabe-se que realmente é importante que as pessoas, particularmente as crianças, adolescentes e adultos jovens, saibam muito e corretamente sobre este tema, porém o fundamental é que tenham, além deste conhecimento indispensável aconsciência sobre o problema, tenham autocrítica, tenham responsabilidades bem definidas enquanto seres humanos, que se queiram bem e saibam valorizar e respeitar a si e aos outros. Tendo isto, estaremos realmente falando de prevenção e de educação preventiva, que, ao nosso ver, é o grande salto que dará a escola na virada deste século que se aproxima.
mídia é a escola, a partir de uma abordagem transdisciplinar, que leva para a sala de aula discussões apaixonadas pela vida cotidiana, mostrando caminhos de comprometimento possíveis para a melhoria da realidade que nos cerca. Esse movimento de re-construção do real, a partir de novas óticas adquiridas, poderá então ser extrapolado para o ambiente social maior, e assim, reforçar a percepção de que as coisas negativas que nos cercam são no mínimo, parcialmente mutáveis. A aquisição de conteúdos programática é de suma importância para a formação de um futuro profissional, mas eles por si só não garantem uma atuação social ética e comprometida. No entanto, a recíproca dessa afirmação parece ser mais verdadeira, pois a aquisição de valores essencialmente protetores de si e do convívio social parecem contribuir para a motivação necessária à aquisição de novos conteúdos, programáticos, que poderão então ser futuramente utilizados para a construção de um Brasil mais justo e comprometido, com as crianças de hoje e de amanhã. Façamos portanto um esforço de reflexão conjunta para começarmos a associar conteúdos programáticos à construção da identidade de cidadania, lembrando que todas as vezes que interagimos com uma criança ou com um adolescente estamos exercendo um ato pedagógico, na medida em que toda situação de “relação” ensina algo a alguém, de como comportar-se na vida e no mundo, e que é nesse contexto de vivências que se constrói um terreno protetor ou de risco para a saúde mental.

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